Resenha: Eu te darei o sol - Jandy Nelson

Eu te darei o sol
Autor(a): Jandy Nelson
Editora: Novo Conceito
Nro Páginas: 384
Classificação: ★★★★★ (03 estrelas)
Sinopse:

Noah e Jude competem pela afeição dos pais, pela atenção do garoto que acabou de se mudar para o bairro e por uma vaga na melhor escola de arte da Califórnia.
Mal-entendidos, ciúmes e uma perda trágica os separaram definitivamente. Trilhando caminhos distintos e vivendo no mesmo espaço, ambos lutam contra dilemas que não têm coragem de revelar a ninguém.
Contado em perspectivas e tempos diferentes, EU TE DAREI O SOL é o livro mais desconcertante de Jandy Nelson. As pessoas mais próximas de nós são as que mais têm o poder de nos machucar.

Livro cortesia da Editora Novo Conceito



Não gosto de citar outras obras, muito menos compara-las, mas acredito que desde o lançamento de As vantagens de ser invisível e os livros do John Green, a maioria tem seguido esta mesma formula para obter sucesso. O drama adolescente retratado de forma sútil e até poética, o amor e neste caso a arte como uma válvula de escape para os problemas de Noah, que infelizmente só ele entende e que são guardados consigo até que ele não consiga mais suportar.

Jude e Noah não tem nada de especial ao meu ver, todos que tenham irmãos sabe que rivalidade e inveja existem por melhor que seja a relação entre eles. Noah e Jude são gêmeos e apesar de terem aquela ligação que só os gêmeos tem, são muito diferentes, a relação dos dois é de puro amor ou puro ódio, se completam mas a rivalidade entre os dois é cada vez mais presente. Ambos carregam em si um dom para as artes, Noah para a pintura e Jude com as esculturas, mas apenas Noah aprecia isso, já que é a única coisa que ele realmente tem, diferente da irmã que possui vários atributos como ser destemida, a favorita do pai, bonita e popular e ainda se comunicar com a sua avó morta e falar a linguagem das flores ( não é um livro sobrenatural, acreditem) e apesar de tudo isso ela ainda consegue sentir uma inveja imensa de Noah e seus desenhos.
 Noah é frágil, um artista emocional e revolucionário, seu único amigo é Jude e seu mundo são os desenhos e sua mãe, que diferente do pai não consegue esconder o quanto tem orgulho do filho o que contribui muito para aumentar ainda mais a inveja de Jude.

Não vou esconder que eu detestei a Jude, apesar de crianças ela se mostra uma pessoa ruim, mas analisando bem a fundo, ela não é diferente de muito de nós na idade dela. Atire a primeira pedra quem nunca viu a mãe ou o pai elogiando seu irmão(a) e quis superá-lo a qualquer custo mesmo que involuntariamente? O livro também consegue mostrar o lado dela, que apesar de tão popular ela esconde uma personalidade insegura e com o decorrer da leitura conhecemos uma adolescente tão frágil quanto Noah, que se agarra ao fantasma da avó e o seu livro de supertições para se encontrar.

'Se um dos irmãos gêmeos se cortar, o outro vai sangrar.''

O livro é narrado por Noah e Jude e em diferentes idades e pontos, então temos o ponto de vista de cada um em relação a toda a trama e a toda a tragédia que acabou separando de vez os dois. Apesar de o livro não seguir uma ordem não impediu em nada a leitura, na verdade ajudou a acelerar um pouco as coisas e deu mais sentimento ao livro.

 A rivalidade entre eles aumenta quando a mãe decide de que o lugar dos dois é na CSA uma renomada escola de artes. Noah fica animado com a ideia e acredita que a CSA é o seu lugar, sua mãe como professora de História da Arte acredita que o filho tem chances de entrar, por outro lado seu pai um médico cético acha toda essa estória um absurdo e Jude tem outros planos para a sua vida, quer fazer faculdade e viver sua vida longe de esquisitões de Arte.
Não fica difícil de adivinhar o quanto a família se separa, e conforme o livro vai fluindo as coisas tendem a piorar. O livro aborda mais que a relação entre irmãos gêmeos, a autora meche em pontos de família bem delicados como a admiração e o medo que Noah sente do pai todo machão, o medo de ser ele mesmo, as frustrações e rebeldias de Jude, o relacionamento entre pessoas tão diferentes e traição de pessoas que estão tão perto, tudo isso e muito mais de uma forma sútil mas incomodante.

Brian seu novo vizinho aparece para trazer um pouco mais de luz e cor ao livro, Noah se apaixona de imediato pelo vizinho, mesmo que ele não saiba, nós leitores já conseguimos sentir o tanto de amor e admiração que ele sente pelo garoto e acabamos nos apaixonando um pouco também, Noah começa a ter uma vida, começa a se questionar, a amadurecer e a viver, coisas que ele não se permitia sentir antes de Brian aparecer, mas o vizinho não chama a atenção apenas de Noah, mas de Jude também.

A alma dele deve ser um sol. Nunca conheci ninguém que tivesse alma de sol.

O livro tem muito drama, apesar de algumas partes de romance, ele consegue te deixar com o coração apertado e cheio de angustia. Jude não é uma vilã, apesar de ser uma pessoa bem difícil de lidar, e ela sofre tanto quanto Noah. O livro esconde muito mais que um triângulo amoroso ou rivalidade entre irmãos, ele aborda o amor de forma pura e simples, o bullyng de forma cruel, a esperança e a fé mesmo que parece loucura e questões familiares. Eu esperava um pouco mais do livro, mas tenho certeza que o livro vai te agradar, Seja pelas questões abordadas, pela forma encantadora que o Noah vê o mundo, seja pela personalidade forte de Jude, talvez os mistérios do livro ou pela escrita agradável da autora.

Encontrar sua alma gêmea é como entrar numa casa onde você já esteve - você vai reconhecer a mobília, os quadros na parede, os livros nas prateleiras, as coisas nas gavetas: você é capaz de se localizar no escuro se precisar.